Ao homem
triste que se rebelara
Contra as
imposições da disciplina
Deus
permitiu que ele pudesse
Escutar, de
surpresa,
As notas e
lições da natureza,
No âmbito de
sala pequenina.
Contrariando
as queixas que lhe ouvira,
Disse-lhe a grande
mesa:
Eu fui, aos
ares livres da floresta,
Um palácio
vibrante em júbilos de festa,
Entre ninhos
e pássaros cantores!
Que música
de paz! Que beleza de flores!
Veio, porém,
um dia,
Um homem de
machado,
Decepou-me
sem dó!
E depois de
entregar-me à serraria,
Onde
amarguei desprezo, lama e pó,
Vendeu-me
para outro companheiro,
Era um
singelo carpinteiro
Que me
malhou durante muitas horas,
Para que eu
seja a mesa em que te escoras!
O mármore do
piso
Exclamou de
improviso:
Adorava meu
berço em formosa montanha!
A minha
independência era tamanha
Que não sei
descrever!
Descendente
de lindas pedras raras,
Formamo-nos
em séculos de luta,
Um homem,
certa vez, descobriu-nos a gruta,
Separou-me
dos meus,
À força me
arrastou sobre os seus próprios passos,
Conduziu-me
à oficina,
Fez-me em
vários pedaços,
Depois
disso, vim eu, de revés em revés,
Até fazer-me
de escravo e servir aos teus pés.
A lâmpada
informou sem pretensão:
A fim de
combater a escuridão
E doar-me em
vida e luz,
Sem o menor desvio,
É necessário
que me ajuste ao fio
Que me guarda
e conduz!
Um belo
jarro à frente,
Esclareceu
humildemente:
Fui um bloco
de argila,
Sossegado e feliz
numa gleba tranquila!
Quando fazia
sol
Adorava
mirar as borboletas
E sentir os
perfumes
De próximo
jardim.
E, à noite,
admirava os vagalumes
Que acendiam
lanterna para mim,
No entanto,
certa feita,
Valente
caçador de barro fino
Arrancou-me do
lar e mudou-me o destino!
A calor
desumano, em fúria desumana,
Que
enlouquece e que arrasa,
Mumificou-me
em fria porcelana
Para
enfeitar-te a casa!
Nisso, falou
antiga porta:
Nunca pude
viver como quisera,
Devo
permanecer em todo o instante, à espera
De ordenações
e impulsos que me dás.
A fim de
resguardar-te os bens e garantir-te a paz,
Protegendo-te
a vida,
Cabe-me
obedecer e sempre obedecer
Para cumprir
contigo o meu próprio dever!
Houve
silêncio e o homem transformado
Fitou, lá
fora, o chão recentemente arado,
Depois
ergueu o olhar para os astros distantes
E exclamou
para os céus,
Em êxtase
profundo:
Sê bendito,
Senhor,
Pela escola
do mundo!
Tudo o que
serve, apoia, aprimora e ilumina,
Tudo o que a
evolução entesoura e contém,
Vejo agora
na luz da disciplina!
Ajuda-me a
servir no infinito bem!
Valoriza,
Senhor, os dias meus
E por tudo
que a vida me oferece
Seja no Dom
da fé por benção que me aquece,
Ou na fonte
do amor que me renova e ensina,
Obrigado,
meu Deus!
Autora:
Maria Dolores
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