Depois da morte é que vemos,
Quando a luz se nos revela,
Quanta sombra e bagatela
Guardamos no coração.
Quantos lamentos inúteis
Complicavam-nos a vida,
Quanta palavra perdida,
Quanto tempo gasto em vão!...
Quantas horas desprezadas,
De espírito desatento
Nos enganos de um momento
Que o próprio tempo desfaz!
Quanta contenda improfícua,
Quanto disfarce no rosto
Que se transforma em desgosto
Furtando a esperança e a paz.
Alma querida, não creias
Seja a morte o fim de tudo,
O tempo – esse sábio mudo,
Concede-nos voz e vez,
Acompanha-nos o passo,
Age, segundo a segundo,
E nos conhece o mundo
Tudo aquilo que se fez.
Ama, esclarece, abençoa,
Sofre e luta, mas não temas,
Ninguém vive sem problemas,
Onde estiver e onde for;
Vida é lavoura perfeita,
Morte é o braço que a preserva,
Que só replanta ou conserva
O que se faz por amor.
Autora: Maria Dolores
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