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quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

Vida

Não digas, coração, que a vida é triste,
Porque a vida é grandeza permanente
E a Natureza, em tudo, é um cântico de glória,
Desde o sol à semente.

Mágoas? Dizes que as mágoas lembram trevas,
Que nem de longe sabes entendê-las...
Contempla o céu noturno, revelando
Avalanches de estrelas.

Asseveras que os sonhos são feridas,
Quais picadas de espinhos agressores...
Fita o verde das árvores podadas,
Recobertas de flores.

Nos dias de aflição, ante a força das provas,
Recorda, na amargura que te oprime,
Que a ostra faz nascer do próprio seio em chaga
A pérola sublime.

Assim também, nas trilhas da existência,
Se choras sem apoio e caminhas sem paz,
Não te queixes do mundo... Serve, ama,
Espera e vencerás.

A vida! ... Toda vida é luz eterna,
Escalando amplidões e buscando apogeus...
E a presença da dor, em qualquer parte,
É uma bênção de Deus.

Autora: Maria Dolores

Fonte da imagem: Internet Google.
 

terça-feira, 15 de novembro de 2022

Vida e Amor

Ante as provas do mundo a que a vida te lance,
Não te sintas a sós, alma querida,
O amor é a luz os Céus, em toda parte,
Para a sustentação a própria vida.

Se algo te fere o coração ou pisa o sonho,
Não chores, nem te inclines para trás,
Ama, serve e prossegue construindo
Que o bem se te fará conforto e paz.

Fui ao campo aprender simplicidade
E admirada vi, de alma surpresa,
Que toda a evolução do homem se realiza
Pelo extremado amor da natureza.

O Solo me explicou:- Há milênios recolho
Lixo, pancadaria, lodo e estrume
Mas devo responder aos golpes recebidos
Com celeiros de pão e vagas de perfume.

A Pedreira me disse:- o martelo me oprime,
A dinamite me estraçalha e arrasa
Para doar ao homem segurança,
Na proteção de sua própria casa.

Ouvi, no subsolo, a raiz da Roseira
A esclarecer-me sem quaisquer rancores:
- Ouço dizer que tenho rosas lindas,
Mas nunca vi as minhas próprias flores.

Disse o Minério Bruto: - sei que o fogo
Purificar-me-á, de pedaço em pedaço,
Enviando-me ao corpo do Progresso
Por vínculos de apoio e nervos de aço...

Então reconheci que, em toda a Terra,
Do recurso mais nobre aos mais plebeus
A vida inteira brilha e se aprimora
Sobre o amor e o perdão da grandeza de Deus.

Autora: Maria Dolores

Fonte da imagem: Internet Google.
 

terça-feira, 1 de novembro de 2022

Voz dos Servidores

Senhor Jesus!
Por nossa própria imprevidência,
Embora a evolução que nos reveste,
O sofrimento áspero, profundo,
Invade, canto a canto, os distritos do mundo
E espalha o pranto e sombra ante o esplendor celeste.

Avança a Terra pelo espaço afora,
Carregando conquistas
Que lhe garantem plena exaltação.
Máquinas jamais vistas
Efetuam serviços colossais;
Satélites, além, na rota em que se vão,
Oferecem notícias e sinais.
Computadores poupam energias
Ou se fazem vigias
De caminhos e forças siderais.
E o homem, desde os céus ao subsolo,
Leva o próprio domínio polo a polo.

Entretanto, Senhor!
Em todos os lugares,
Há quem se desconforte,
No imenso festival de riqueza e cultura,

Transportando consigo a vocação da morte,
De coração cansado, ante a vida insegura.
Destacamos, Jesus, os que caem de tédio,
Que gastaram o tempo e o corpo sem proveito,
E são hoje doentes quase sem remédio
Na angústia sem razão que lhes oprime o peito.
Falamos dos que morrem na saudade,
Dos corações queridos que partiram
Para a imortalidade,
E tateiam chorando, ante a Vida Maior,
Vasos de cinza e pedra em derredor
Das lágrimas que vertem...

Falamos dos drogados,
Dos que largaram de servir,
Dos que se dizem desesperançados
Ante a luz do porvir;
Dos que afirmam que a fé
Hoje se guarda apenas em museus,
E proclamam, gritando desenfreados,
Que a ciência na Terra é a derrota de Deus.

É por isto, Senhor, que nós Te suplicamos:
Não nos deixes temer o vozeirão das trevas;
Da Infinita Bondade a que Te elevas,
Concede-nos a força da humildade
De modo a trabalharmos, dia-a-dia,
Em Teu reino de luz e de verdade.
Ajuda-nos, Senhor,
A esquecer-nos, a fim de acompanhar-Te,
Cooperando Contigo em qualquer parte.
Acolhe-nos no amor com que nos guardas,
Na condição de servos teus.
Porque, apesar de sermos pequeninos,
Encontramos, Senhor, em Teus ensinos,
A presença de Deus.

Autora: Maria Dolores

Fonte da imagem: Internet Google.
 

sábado, 15 de outubro de 2022

União e Amizade

União e Amizade,
Azas de luz da paz e da alegria,
Com que nossa alma voa, cada dia,
Ao reino augusto da fraternidade!...

Da união nasce a fonte soberana
Do poder que redime
Pelo amor milagroso, amplo e sublime,
De que todo o universo se engalana.

Da amizade provém
A santa vibração
Das aleluias de renovação,
Das claridades do infinito bem.

Sem que a luta nos uma, passo a passo,
E sem que nos amemos,
Dormirão nossos sonhos nos extremos
Da aflição, da amargura e do cansaço.

União e Amizade –
Fadas celestes da felicidade...
Quem ouvi-las submisso,
Agindo para honrá-las e atendê-las,
Guarda os braços na Bênçãos do serviço
E o coração no brilho das estrelas.

Autora: Maria Dolores

Fonte da imagem: Internet Google.
 

sábado, 1 de outubro de 2022

Uma Luz

Por vezes, tanto empeço na estrada,
Que indagas, coração, de alma desencantada,
Por que meios humanos prosseguir...
Entretanto, ergue a fronte, ao vasto firmamento,
Da nuvem mais pesada ou do céu mais cinzento
Uma luz há de vir...

Deus a ninguém esquece... Ante a sombra noturna,
Sem bússola na selva imóvel e soturna,
O viajor se detém, sem coragem de agir;
Para, pensando em Deus... A névoa se condensa...
Mas a oração lhe diz, além da sombra imensa:
Uma luz há de vir...

Abate-se na mina a sinistra barragem,
Pedras, detritos e lama impedem a passagem,
Vozes clamam, no fundo, a gemer e a pedir;
Eis que a prece se eleva e, ao socorro da Altura,
Gritam vozes de irmãos, promovendo a abertura:
Uma luz há de vir...

É noite. Sobre o mar, há bulcões em batalha,
Relâmpagos relembram fogo de metralha
No trovão a rugir;
O barco, aos vagalhões, treme, estremece, estala
Pequena multidão, ora, espera e se cala...
Uma luz há de vir...

Desse modo, igualmente, alma fraterna,
Quando a prova por sombra te governa,
Qual noite que te oculta as visões do porvir,
Quando tudo pareça escuridão que avança,
Trabalha, serve, crê e ouve a voz da esperança:
Uma luz há de vir...

Autora: Maria Dolores

Fonte da imagem: Internet Google.
 

quinta-feira, 15 de setembro de 2022

Traço do Cireneu

O Senhor carregava a cruz dificilmente...
A sentença cruel, afinal, se cumpria.
Liberto Barrabás, Jesus no mesmo dia,
Era levado à morte, ante a ironia
Do fanatismo deprimente...

Brados, altercações, zombaria, algazarra....
O Excelso Benfeitor, no lenho a que se agarra,
Curva-se de fadiga, arrasta-se, tressua,
Escutando em silêncio os palavrões da rua.

O cortejo prossegue... O Cristo, passo em passo,
Por um momento só, exânime fraqueja;
Ajoelha-se e cai, vencido de cansaço.
O povo exige a marcha, excede-se, pragueja...

Nisso, um campônio vem da gleba com que lida.
É Simão de Cirene, homem simples e forte.
Um meirinho lhe pede apoio na subida,
Deve prestar auxílio ao condenado à morte...

_ “Como, senhor? Não posso!...” – exclama o interpelado,
_ “Tenho pressa!” No entanto, o funcionário insano
Grita-lhe em rosto: _ “Cão, obedece ao chamado!...”
E mostra-lhe o rebenque a gesto desumano...

Cansado, o lavrador atende e silencia,
Toma parte da cruz sobre o ombro robusto,
Fita o Mestre cansado e o suor que o cobria...
A turba escala o monte e alcança o topo a custo.

Contemplando Jesus, por fim, deposto o lenho,
Diz-lhe Simão: _ “Senhor, achava-me apressado...
A filha cega e muda é o tesouro que eu tenho,
Não queria ferir-te o peito atribulado.

Perdoa, se aleguei a urgência em que me via...
É o coração de pai que falava a chorar...
Sei que estás inocente, ampara-me, alivia
A dor que me avassala e me atormenta o lar...”

Jesus endereçou-lhe um aceno de ternura,
Em meio a multidão, apupado, sozinho
E acentuou: _ “Simão, guarda a fé que te apura,
Todo o bem que se faz é uma luz no caminho.”

O cireneu, de volta, acha a enorme surpresa...
Fala-lhe a filha: - “oh, pai, uma luz veio a mim,
Agora vejo e falo, acabou-se a tristeza,
Tenho a impressão que a Terra é um formoso Jardim!...”

Simão chora, lembrando a cruz que traz na mente
E reconhece o bem por divino troféu,
Que mesmo praticado involuntariamente
É uma força atraindo a intercessão do Céu!...

Autora: Maria Dolores

Fonte da imagem: Internet Google.
 

quinta-feira, 1 de setembro de 2022

Um Certo Devoto

Um homem que se entregara à devoção,
Havia muito tempo andava em ansiosa espera,
Queria ver Jesus.
Por isso, quase sempre, em profunda oração,

Vivia em súplica sincera...
Até que, certa noite,
Viu, reverente, o Mestre
Que o abraçava e prometia,
Com palavras de aviso terno e exato,
Visitá-lo no dia imediato.

O devoto acordou... Amanhecia...
Antes que o Sol surgisse, inteiramente,
Apresentando a Terra em novas cores,
O amigo de Jesus, agindo como em festa,
Varre a casa modesta;
Depois, ei-lo a enfeitá-la
Desde a pequena sala
Ao fogão da cozinha limpa e estreita,
Com dezena de flores,
Estampando na face a alegria perfeita.

Logo pela manhã,
Bateu-lhe à porta um pobre em roupa esfarrapada,
Mostrando pés e mãos em estranhas feridas.
A rogar-lhe uns minutos de pousada,
Através de expressões enternecidas,
Alegando sofrer tribulações
De comprida jornada;
Mas o devoto respondeu:
Amigo, segue adiante,
O seu caso é comum,
Espero por alguém muito importante
Não tenho tempo algum.
O mendigo saiu cambaleante.
Depois de agradecer.

Em seguida apareceu
Triste rapaz errante,
Demonstrando, no todo, traço a traço,
Febre, penúria e dor, indigência e cansaço,
Suplicando socorro ao devoto feliz...
Ele, porém, lhe diz:
-Põe-te à frente, rapaz, não tenho neste mundo
A obrigação de abrir a porta de meu lar
A qualquer vagabundo...

Logo após, um menino pobre e triste
Surgiu descalço e só,
Corpo todo a encobrir-se sobre o pó
Das veredas difíceis que trilhara...
Pedia pão e abrigo,
Mas falou o devoto em voz segura e clara:
- Hoje, espero um amigo,
Não posso recolhê-lo,
Peça pão ao vizinho
E segue o teu caminho...
Aliás, para mim, é simples desmazelo
Dos lares sem amor
Que deixa a criança, um garoto qualquer,
Pedir, pedir, pedir e andar como quiser
Para depois fazer-se malfeitor...

Mais tarde ao fim do dia,
Um velhinho doente, arrimado a um bordão,
Respeitoso, rogava compaixão
Receava dormir exposto à noite fria
E sair, ao relento,
Aumentando a fadiga e o sofrimento.
O devoto, no entanto, informou da janela
- Não posso dar-te asilo,
Não bata à minha porta e nem te escores nela...
Aguardo alguém, contudo, segue em frente,
Neste mesmo lugar encontrarás mais gente
Que possa agasalhá-lo;
Desculpa-me e recusa,
É um amigo importante esse alguém de quem falo...
Espero que terás leito e pousada
Na primeira pensão, à direita da estrada.

O dia terminou e a noite veio escura,
O devoto chorou, tomado de amargura,
Mas dormiu e sonhou que reencontrava o Cristo;
Assombrado, gritou: - Por que Senhor,
Não me queres a fé, nem me aceitas o amor?
Preparei minha casa com cuidado
A fim de demonstrar-te todo o meu carinho,
E não quiseste vir ao meu recanto...

- Como não? – disse o Mestre em doce explicação.
- Hoje, por quatro vezes fui
A tua casa, em vão;
Por muito que te achasse, eu me via sozinho...
Finda uma pausa, o Mestre esclareceu:
- Recorda, amigo meu,
O mendigo, o rapaz, o menino e o velhinho...
Sei que teu coração não percebeu,
Mas nos quatro viajores do caminho
Estava eu
A estender-te clarão renovador
E te buscar em meu imenso amor.

Nisso, o devoto em pranto
Voltou ao corpo e veio a despertar...
E relembrando o ensino, trêmulo de espanto,
Começou a pensar...

Autora: Maria Dolores

Fonte da imagem: Internet Google.
 

segunda-feira, 15 de agosto de 2022

Súplica de Mulher

E disseste Senhor: “Ide e pregai”.
Aqui estou
Para ouvir-te a palavra e dar-lhe desempenho,
Muito embora os defeitos que ainda tenho,
Para estender às criaturas
As notícias do amor de Nosso Pai...

Que dizer, entretanto,
Ao coração que se encharcou de pranto
Pelo extremo cansaço?
Ao companheiro que se entrega ao crime,
Sem que eu consiga desarmar-lhe o braço?
Ao homem sem apoio a que se arrime,
Vendo um filhinho enfermo,
Entre a penúria e a morte?
E ao outro que se rende a desmando profundo,
Criando chagas vivas para o mundo
Sem mão que as reconforte?

Que falarei, Senhor,
À criança que vaga sem amor,
Ao coração de Mãe com um filho ao colo,
A estirar-se no solo,
Em aflição tremenda,
Com febre e inanição,
Sem qualquer agasalho que as defenda,
Sem qualquer proteção?
Que palavras direi, Senhor Jesus,
Aos que andam sem luz.
E anseiam por fugir, num derradeiro aceno,
Entornando na boca a dose de veneno?

Que frases tecerei, Amado Amigo,
Aos que vão, em saber, entre a sombra e o perigo,
Nas trilhas da descrença
Sobre as quais se conjuga
A droga utilizada para a fuga?
Aos que caem, por fim, no desespero inglório,
Buscando apoio e luz, na paz de um sanatório?

Que falarei, Senhor,
Aos que perderam corações queridos
E esquadrinham na lousa
O conforto que tarda,
Procurando na cinza o que a cinza não guarda?

Que direi aos doentes
Que acordam sobre a mesa
De abençoada cirurgia,
Ao se verem sem mãos
Ou reclamando as pernas amputadas?

Que direi, meu Jesus,
Aos pais que viram mortos
Filhos queridos nas estradas
Ou nas pedras da rua,
Através de terríveis acidentes,
Sem saberem que a vida continua
Em planos diferentes?

Ah! sim, Jesus, já sei o que dizer...
Direi que sempre existes
E que reanimarás todos os tristes,
Que pela fé que nos alcança
Temos contigo a fonte da esperança;
Que a ninguém deixarás, de espírito sozinho,
Que nos socorrerás de caminho em caminho,
Na proteção com que nos agasalhas,
Que embora as nossas falhas,
Nós todos somos teus
Tutelados que levas para Deus!...

E se alguém estranhar
Seja eu a singela mensageira
A proclamar o brilho de teu nome,
Dentro da imperfeição que me consome
E nas fraquezas de que me assinalo,
Direi aos companheiros de quem falo
Dos amados amigos que me deste,
Que te espalham no mundo a Bondade Celeste,
Trabalhando e servindo, em qualquer parte,
Ao seguir-te e ao louvar-te...

E, quanto a mim, Senhor,
Que me entrego, de todo e sem reservas,
Ao teu apostolado redentor,
Explicarei que me conservas,
Em minha ignorância e pequenez,
Tão-só para levar,
Seja onde for,
O meu simples cartaz
Enfeitado de amor,
Entre flores de paz,
Sobre o qual escrevi
Com tua permissão,
Estas sete palavras de oração,
De fé, respeito e luz:
- “Confiamos em Deus na bênção de Jesus”.

Autora: Maria Dolores

Fonte da imagem: Internet Google.
 

segunda-feira, 1 de agosto de 2022

Vila Esperança

Alegas, muita vez, alma querida:
- O tédio me entorpece e me consome a vida!...

Um erro na poltrona te desgosta,
Apaga-te o sorriso e deixa-te indisposta...

O marido, preso, por natureza,
Era um médico amigo da pobreza.

Houvesse algum enfermo em pequena palhoça...
Ei-lo, junto ao doente em plena roça...

Ele sofre e adoece, certo dia,
E roga à esposa, amparo e companhia.

Ela atende ao insólito pedido,
Enquanto ele se mostra surpreendido.

De um carro velho e forte, sem tardança,
Descem os dois ao chão, ante a Vila Esperança.

Ali, toda morada, é formada de zinco,
Alinhando-se em grupo, cinco a cinco.

Disse o esposo a ela:
- “Hoje, o trabalho aqui é teu recado...
os doentes são teus...Ando muito cansado...”.

Do casebre primeiro saem gemidos dos loucos...
Eis que o esposo explica:
- "É a Dona Flora, exaurindo-se aos poucos...
Não mais resiste a pobre ao câncer que a devora
Mas, para aliviar a angústia que a domina,
Temos na pasta que eu trouxe a injeção de morfina".

Aplicada a injeção, ela vê três crianças
Junto à mulher sofrida, em choro continuado...
Ela fala ao marido, acerca de mudanças,
E acaba perguntando ao esposo intrigado:
-“O que comem aqui estas crianças nuas”
O médico responde: “O pão dado nas ruas”.
Ela aciona o carro e adquire cem pães,
Que distribui na praça, entre os filhos e as mães.

-“Moça, grita uma voz
De uma das casinholas escondidas,
Venha nos ver
Somos pobres doentes desvalidas!...”
A dama entra no quarto
E lavam-lhe as manchas e as feridas...
Anda de casa em casa.
Dá remédio às crianças com bronquite
E socorre aos enfermos,
Vítimas de hepatite...
De sentimento preso
Às dores que detinham no lugar,
Oito horas gastou a lavar e a limpar.

De volta, eis que ela sente
O marido mais forte e mais contente...
Notou que o Cristo Amado estaria mais perto
E admitiu que a vida
Nunca mais lhe seria
Desencanto e deserto...
Adentrou-se no lar, recordando a excursão
Que lhe alterara a mente, o caminho e a visão...

Ajoelhou-se em prece,
Pensando na penúria que encontrara.
Contemplou de uma fímbria da janela
A noite linda e clara...
Imaginou Jesus
Caminhando ao encontro da pobreza
E quase sem querer
Exclamou para os Céus:

- “Obrigada, Jesus, pela Vila Esperança
que me falou do amor que não se cansa...
agora, estou na paz que eu sempre quis.
A qualquer hora posso ser feliz!...
Obrigada, Jesus, por me ensinar
Que a Caridade é Luz e a Luz é trabalhar!..”.

Autora: Maria Dolores

Imagem meramente ilustrativa – Fonte: Internet Google.
 

sexta-feira, 15 de julho de 2022

Um Retrato do Aborto

Perita auxiliar de ginecologia,
Sempre atenta às questões de luxo e reconforto,
A senhora dizia:
- Meu problema não é a prática do aborto,
Tento apenas livrar a mulher desprezada,
Dos desgostos fatais que a esperam na estrada

Quando o homem lhe fere o brio feminino...
Amigos respondiam:
- Mas, no caso, a mulher, ante as leis do destino,
Não será responsável quando aceita
Ser mulher-mãe do filho que carrega?
Se ao homem que a buscou ela própria se entrega?

Sabemos que o espírito enlaça o corpo de que se aproveita
Quando estão, ele e ela, em comunhão perfeita.
A senhora, entretanto, falava, contrafeita:
- Não protesto, nem digo que estou certa,
Sei apenas que estou em minha profissão,
Tanto quanto angario apreço e estimação,

Creio que faço o bem, liberando a mulher
Do fardo que ela traz quando não quer;
Além do mais, preciso do dinheiro
Para dar minha filha a um caminho seguro,
Uma bela mansão, um marido e o futuro
Sem aflição e sem dificuldade...

Ela agora possui quinze anos completos;
Sonho vê-la feliz ao dar-me vários netos...
Para isso, o dinheiro é a base inesquecível,
Depósito bancário é melhora de nível.
Vejo no meu trabalho um trabalho qualquer
Simples mulher que ajuda a uma outra mulher,

Não tenho hesitação, nem penso quanto a isso,
Aborto é proteção a quem presto serviço;
Desde que a candidata chegue mascarada,
Passo a cumprir o meu dever
E não quero saber
Se veio acompanhada ou desacompanhada,

Se anota o nome ou não,
Não quero queixa, nem complicação,
Cada uma a que atendo é mais seis mil!...
E aditava, esboçando um sorriso gentil:
_ Preciso de milhões...
desdobrava-se o tempo, hora por hora,
quando em chuvosa noite surge uma senhora,
pagando a taxa de seis mil cruzeiros.
Ela explica que trouxe uma sobrinha pobre
Para comprar a intervenção...
Declara-se parente e mostra-se incumbida
De socorrer a moça e dar-lhe proteção,
Quer mantê-la, porém, desconhecida...
A senhora ouve, calma, e concorda em seguida:
- Entendo, claramente,
Cada pessoa está em sua própria vida...
Entra no gabinete a jovem mascarada,
Parece muda e surda que se entrega
A uma força terrível, dura e cega...

Ao ver-lhe o corpo verde de menina,
A senhora em ação
Elogia lhe a pele alabastrina;
Mas, aparentemente sem razão,
Quando o chamado auxilio estava em meio,
Estranha hemorragia surge em cheio...
A jovem geme, a parteira entra em luta...
Nada consegue... O sangue explode e vence-a
A dama ao telefone roga a um médico amigo
Que lhe venha em socorro...

Vê a moça em perigo,
Quer salva-lhe a existência,
Mas o sangue que sai prossegue a jorro...
Chega o médico à pressa,
Nota a menina em coma...
- Nada mais a fazer – diz ele quando a toma,
A fim de examinar lhe o pulso e, logo após,
Diz à parteira aflita:
- É uma jovem bonita,
Liberemos a face, enquanto estamos sós.
Ele mesmo retira a máscara em veludo
Quer anotar-lhe o rosto para estudo...

Eis, porém, que aparece
A mocinha, a morrer, num sorriso tristonho,
Qual criança que dorme a fitar a luz do último sonho...
Mas ao ver-lhe, de todo, a face em primavera,
Grita a pobre senhora em gemidos de fera:
- Por que? Por que, meu Deus, esta dor que me mata?
Em pranto convulsivo a dor se lhe desata...
É que, ao fitar o corpo enfeitado em rendilha,
Naquele rosto lindo e pálido, ante a morte,
A rugir e a chorar sem nada que a conforte,
A senhora encontrara a sua própria filha.

Autora: Maria Dolores

Fonte da imagem: Internet Google.
 

sexta-feira, 1 de julho de 2022

Tesouro da Vida

Ao homem que pedia ao Céu socorro
Que o livrasse do tédio e da tristeza
O Senhor permitiu que ele escutasse
Certas informações da Natureza.

Disse-lhe um tronco enorme, rente à estrada:
- Queres seguro amparo, meu amigo?
Pensa no Tempo... Aproveitando o Tempo,
Ergui-me aos poucos por ditoso abrigo.

Não longe, uma roseira esclareceu:
- Não te dês a caminhos tentadores,
Trabalhando sem pausa, dia-a-dia,
Posso abrir para a Terra o meu cofre de flores.

Consultada, uma fonte respondeu
- O Tempo vem de Deus, de segundo a segundo,
Devo seguir lavando pedra e lama,
A fim de resguardar o conforto do mundo.

A abelha comentou alegremente
Sem alterar as excursões sonoras:
- Não existem angústia ou desalento
Para quem descobriu a riqueza das horas.

O homem renovado, então fitando os Céus,
Gritou, ante os humildes cireneus:
- O trabalho no Tempo é o tesouro da vida,
Agora compreendi... Obrigado, meu Deus!...

Autora: Maria Dolores

Fonte da imagem: Internet Google.
 

quarta-feira, 15 de junho de 2022

Trabalho Divino

Escuta, alma querida e boa,
Perante as aflições que te espanquem a vida,
Na prova que atordoa,
Há sofrimento, lágrima e tumulto,
Embora tolerando o impacto das trevas,
Busca enxergar o mecanismo oculto
Das tarefas de amor e redenção que levas!...

Deus clareia a razão
Aqui, ali, além,
Para que o nosso próprio coração
Revele por si mesmo a lei do bem...

Tens para dar, conheces para ver
E para dar e ver já podes discernir...
Eis a missão que trazes por dever:
Trabalhar, compreender, elevar, construir!...

Tudo o que existe e vibra
Entre as forças do mundo,
Tem no próprio destino o dom profundo.
De ajudar e servir!...

O sol gasta-se em luz a entregar-se de todo
E tanto ampara aos céus quanto às furnas de lodo...
O jardim despojado a refazer-se espera
Para dar-se de novo em nova primavera...
Toda árvore esquece o que sofre do homem
E apoia sem cessar aqueles que a consomem!...
Olha o minério arrebatado ao solo,
Sem possibilidades de regresso.
Padece fogo ardente
A fim de assegurar constantemente
O esplendor do progresso.

Já consegues pensar que qualquer flor que apanhas,
A mais singela e mais descolorida,
É um sonho que arrancaste à natureza
Para adornar-te a vida?
Que modelas a enxada
E golpeias o chão,
Para que o chão te guarde a sementeira
E te forneça o pão?

Assim também por onde vás,
Ante assaltos, tragédias, ironias,
Tribulação ou desengano,
Quando as estradas do cotidiano
Surjam mais espinhosas ou sombrias,
Nada reclamas, serve.
E nem reproves, ama!
Em toda a parte a vida te reclama
Tolerância, alegria, esperança e bondade,
Inda que a dor te fira ou arrase os sonhos teus,
Porque o Céu te entregou a liberdade
De servir e elevar a Humanidade
Por trabalho de Deus.

Autora: Maria Dolores

Fonte da imagem: Internet Google.
 

quarta-feira, 1 de junho de 2022

Súplica de Todos

Companheiros enganados
São tantos que, ás vezes, penso
Que ninguém conseguiria
Enumerá-los num censo
A nomes de cada um...

Enquanto estive na terra,
Via este quadro comum:
Nas sendas por onde vão,
Nunca soube o que pediam
Por dentro do coração.

Passavam como eu passava,
Uns de carro, outros a pé,
Muitos deles se arrastavam
Clamando falta de fé.

Quantos nobres cavalheiros
Seguiam de fronte erguida,
Intentando dominar
As fontes da própria vida!...
Outros muitos caminhavam,
Face triste e passo lento,
Revelando sem palavras
Amargura e sofrimento.

De muitos, eu me afastava,
Ao vê-los em grandes crises,
Agressivos, revoltados,
Coléricos e infelizes...

Quantas mulheres passavam
Arquitetando aventura!...
Guardava comigo a ideia
De vê-las arrebatadas
Aos turbilhões da loucura.
De muitas somente ouvia
Os mais arrojados planos
Para conquista de laços
Que acabam em desenganos,
Outras seguiam adiante,
Indiferente à vida,
Tristes irmãs desprezadas,
De alma doente e sofrida.

Via passar homens fortes
Sob estranho cativeiro,
Queriam ouro e mais ouro,
Atolados em dinheiro.

Fitava moças e moços
Parecendo, mais ou menos,
Alucinados da Terra,
Usando estranhos venenos;
Quantos deles se mostravam
Irresponsáveis? Não sei.
Sabia apenas notá-los
Por irmãos fora da lei.

Em minha severidade,
Culpava filhos e pais,
Minhas censuras a esmo
Subiam cada vez mais.

No entanto, a morte surgiu,
Transformou-me, de repente,
Foi então que vi, de perto,
As lutas de tanta gente...

Esses passantes do mundo
Que encontrara, face a face,
Nunca haviam merecido
Palavra que os condenasse.
Morando agora, no além,
Conheço, em alta razão:
Ninguém caminha na terra
Buscando reprovação.
Sei hoje a grande verdade
Que sinto e não sei expor:
Todos nós, dentro da vida,
Pedimos somente amor.

Autora: Maria Dolores

Fonte da imagem: Internet Google.
 

domingo, 15 de maio de 2022

Senda de Luz

Carrega sem revolta a cruz que te aguilhoa
Às pedras e espinheiros da subida!...
Se aceitaste Jesus, transfiguraste a vida
E o suor no madeiro é a luz que te abençoa.

Olha ao redor da senda em que transitas
As criaturas vestidas de embaraços;
Largaram-se da cruz com os próprios braços
E te acenam, de longe, anônimas e aflitas.

Algumas em te vendo os passos vacilantes
Zombam de ti com impropérios e insultos,
Conservando, no entanto, os tormentos ocultos
Dos remorsos no fel de lágrimas constantes.

Ouves na retaguarda injúrias, desatinos...
E elevas-te aguentando a cruz pesada,
Demonstrando a humildade aos amigos adultos
E falando de amor aos pequeninos.

Mostras a fé robusta aos homens desatentos...
A viagem é longa, em longos trechos brutos,
Chegas, porém, ao topo, em passos diminutos,
A esquecer-te dos pés doridos e sangrentos...

Do topo para frente é tudo primavera,
A natureza brilha; É a força de outra luz.
E buscas, Mais além, o abraço de Jesus,
O Servidor Divino que te espera!...

Autora: Maria Dolores

Fonte da imagem: Internet Google.
 

domingo, 1 de maio de 2022

Sugestões da Vida

Muita gente pensa e diz
Que todo coração a envolver-se no bem
Parece caminhar na tempestade,
A lutar e sofrer como ninguém.

Entretanto, alma boa,
Prossegue edificando sem crer nisso,
Ninguém progride e nem se aperfeiçoa
Sem calos e sem choques em serviço.

Tudo o que serve, tudo o que auxilia,
É ação em disciplina firme e atenta;
Anota os benefícios mais singelos
Com que a vida na Terra te sustenta.

Fita uma vela acesa, em pleno escuro,
Nobre lição de apoio a que o mundo nos leva,
Recorda um vagalume afastando um gigante,
Um guarda a consumir-se eliminando a treva.

Solo ferido é o berço da semente,
Semente sufocada é a fonte da fartura,
O trigo não fornece pão à mesa,
Sem sofrer na engrenagem que o tritura.

O piso que mantém a casa erguida
Oculta-se no chão em gratuito recesso,
A movimentação das máquinas no mundo
É força que se queima em louvor do progresso.

As férreas vigas do edifício enorme
Em que dispões de lar, segurança e defesa,
Vestem-se no cimento que se faz
Das pedras que se arranca à natureza.

Assim também, alma querida e bela,
Aprendendo a servir no campo do Senhor,
É preciso esquecer-nos no trabalho,
Buscando na humildade a presença do amor.

Por: Maria Dolores

Fonte da imagem: Internet Google.