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quinta-feira, 15 de setembro de 2022

Traço do Cireneu

O Senhor carregava a cruz dificilmente...
A sentença cruel, afinal, se cumpria.
Liberto Barrabás, Jesus no mesmo dia,
Era levado à morte, ante a ironia
Do fanatismo deprimente...

Brados, altercações, zombaria, algazarra....
O Excelso Benfeitor, no lenho a que se agarra,
Curva-se de fadiga, arrasta-se, tressua,
Escutando em silêncio os palavrões da rua.

O cortejo prossegue... O Cristo, passo em passo,
Por um momento só, exânime fraqueja;
Ajoelha-se e cai, vencido de cansaço.
O povo exige a marcha, excede-se, pragueja...

Nisso, um campônio vem da gleba com que lida.
É Simão de Cirene, homem simples e forte.
Um meirinho lhe pede apoio na subida,
Deve prestar auxílio ao condenado à morte...

_ “Como, senhor? Não posso!...” – exclama o interpelado,
_ “Tenho pressa!” No entanto, o funcionário insano
Grita-lhe em rosto: _ “Cão, obedece ao chamado!...”
E mostra-lhe o rebenque a gesto desumano...

Cansado, o lavrador atende e silencia,
Toma parte da cruz sobre o ombro robusto,
Fita o Mestre cansado e o suor que o cobria...
A turba escala o monte e alcança o topo a custo.

Contemplando Jesus, por fim, deposto o lenho,
Diz-lhe Simão: _ “Senhor, achava-me apressado...
A filha cega e muda é o tesouro que eu tenho,
Não queria ferir-te o peito atribulado.

Perdoa, se aleguei a urgência em que me via...
É o coração de pai que falava a chorar...
Sei que estás inocente, ampara-me, alivia
A dor que me avassala e me atormenta o lar...”

Jesus endereçou-lhe um aceno de ternura,
Em meio a multidão, apupado, sozinho
E acentuou: _ “Simão, guarda a fé que te apura,
Todo o bem que se faz é uma luz no caminho.”

O cireneu, de volta, acha a enorme surpresa...
Fala-lhe a filha: - “oh, pai, uma luz veio a mim,
Agora vejo e falo, acabou-se a tristeza,
Tenho a impressão que a Terra é um formoso Jardim!...”

Simão chora, lembrando a cruz que traz na mente
E reconhece o bem por divino troféu,
Que mesmo praticado involuntariamente
É uma força atraindo a intercessão do Céu!...

Autora: Maria Dolores

Fonte da imagem: Internet Google.
 

quinta-feira, 1 de setembro de 2022

Um Certo Devoto

Um homem que se entregara à devoção,
Havia muito tempo andava em ansiosa espera,
Queria ver Jesus.
Por isso, quase sempre, em profunda oração,

Vivia em súplica sincera...
Até que, certa noite,
Viu, reverente, o Mestre
Que o abraçava e prometia,
Com palavras de aviso terno e exato,
Visitá-lo no dia imediato.

O devoto acordou... Amanhecia...
Antes que o Sol surgisse, inteiramente,
Apresentando a Terra em novas cores,
O amigo de Jesus, agindo como em festa,
Varre a casa modesta;
Depois, ei-lo a enfeitá-la
Desde a pequena sala
Ao fogão da cozinha limpa e estreita,
Com dezena de flores,
Estampando na face a alegria perfeita.

Logo pela manhã,
Bateu-lhe à porta um pobre em roupa esfarrapada,
Mostrando pés e mãos em estranhas feridas.
A rogar-lhe uns minutos de pousada,
Através de expressões enternecidas,
Alegando sofrer tribulações
De comprida jornada;
Mas o devoto respondeu:
Amigo, segue adiante,
O seu caso é comum,
Espero por alguém muito importante
Não tenho tempo algum.
O mendigo saiu cambaleante.
Depois de agradecer.

Em seguida apareceu
Triste rapaz errante,
Demonstrando, no todo, traço a traço,
Febre, penúria e dor, indigência e cansaço,
Suplicando socorro ao devoto feliz...
Ele, porém, lhe diz:
-Põe-te à frente, rapaz, não tenho neste mundo
A obrigação de abrir a porta de meu lar
A qualquer vagabundo...

Logo após, um menino pobre e triste
Surgiu descalço e só,
Corpo todo a encobrir-se sobre o pó
Das veredas difíceis que trilhara...
Pedia pão e abrigo,
Mas falou o devoto em voz segura e clara:
- Hoje, espero um amigo,
Não posso recolhê-lo,
Peça pão ao vizinho
E segue o teu caminho...
Aliás, para mim, é simples desmazelo
Dos lares sem amor
Que deixa a criança, um garoto qualquer,
Pedir, pedir, pedir e andar como quiser
Para depois fazer-se malfeitor...

Mais tarde ao fim do dia,
Um velhinho doente, arrimado a um bordão,
Respeitoso, rogava compaixão
Receava dormir exposto à noite fria
E sair, ao relento,
Aumentando a fadiga e o sofrimento.
O devoto, no entanto, informou da janela
- Não posso dar-te asilo,
Não bata à minha porta e nem te escores nela...
Aguardo alguém, contudo, segue em frente,
Neste mesmo lugar encontrarás mais gente
Que possa agasalhá-lo;
Desculpa-me e recusa,
É um amigo importante esse alguém de quem falo...
Espero que terás leito e pousada
Na primeira pensão, à direita da estrada.

O dia terminou e a noite veio escura,
O devoto chorou, tomado de amargura,
Mas dormiu e sonhou que reencontrava o Cristo;
Assombrado, gritou: - Por que Senhor,
Não me queres a fé, nem me aceitas o amor?
Preparei minha casa com cuidado
A fim de demonstrar-te todo o meu carinho,
E não quiseste vir ao meu recanto...

- Como não? – disse o Mestre em doce explicação.
- Hoje, por quatro vezes fui
A tua casa, em vão;
Por muito que te achasse, eu me via sozinho...
Finda uma pausa, o Mestre esclareceu:
- Recorda, amigo meu,
O mendigo, o rapaz, o menino e o velhinho...
Sei que teu coração não percebeu,
Mas nos quatro viajores do caminho
Estava eu
A estender-te clarão renovador
E te buscar em meu imenso amor.

Nisso, o devoto em pranto
Voltou ao corpo e veio a despertar...
E relembrando o ensino, trêmulo de espanto,
Começou a pensar...

Autora: Maria Dolores

Fonte da imagem: Internet Google.