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terça-feira, 1 de dezembro de 2020

Sempre o Bem

Bendito sejas, coração amigo,
Buscando construir e elevar para o bem
Sem destacar a treva
Nem ferir a ninguém.

Deus te guarde na lei do auxílio que nos rege
Sempre que te dediques a expressar-te,
À Excelsa Providência determina
Que a bênção do socorro esteja em toda parte.

Quem de nós, aprendizes do progresso,
Estará esquecendo orgulho, possessão, vaidade, força bruta?
Sem o amparo de alguém que nos tolere
E nos minore a luta?

Não vale maldizer a sombra em torno,
Basta a fim de arredá-la humilde vela acesa,
Unir e melhorar, ajudar e servir
São determinações da natureza.

Um pântano qualquer pode fazer-se, um dia,
Campina surpreendente, em fruto e flor,
Mas não prescindirá de mãos amigas
Que lhe estendam recurso, auxílio e amor...

Fita a cachoeira em ápices de força...
Sem alguém que lhe oferte o controle da usina,
É grandeza de ação deficitária,
Alto poder entregue à indisciplina.

Certo bloco de mármore do monte
Rolou a flagelar canteiros de verdura,
Mas um artista a educá-lo, dia-a-dia,
Dele fez obra-prima de escultura.

Pensemos quanto a isso, alma querida,
Estendendo a esperança, ante a força do bem;
Quem procura no amor a elevação da vida,
Não se detém no mal, nem censura a ninguém.

Autora: Maria Dolores
 

domingo, 15 de novembro de 2020

Reencontro no Além

Vagueava no Espaço a pobre mãe suicida,
Apagara, a veneno, a luz da própria vida
Tentando reencontrar o filho que perdera
Em tóxicos letais,
Saudade, ânsia, aflição...
Não suportara mais.
E espírito da sombra, em lágrimas vagueia,
Entre a cegueira e a dor na angústia que a estonteia.

Dias, semanas, meses na loucura
Atravessara, atribulada e errante,
O império do remorso, ante a sombra gigante,
Sem confiança em Deus, infeliz e insegura,
A bradar o estribilho:
- Ah! meu filho, meu filho!...
Até que atormentada, louca e cega
Tateando no Além, eis que se apega
A desditoso irmão, também desorientado,
Que lastimava, em choro, os erros do passado...
Depois de ouvir-lhe os gritos,
O pobre respondeu:

- A senhora clamando é mais feliz do que eu,
Seu coração procura um filho muito amado,
Quanto a mim... quanto a mim,
Quero esquecer a mãe que tive no passado,
Que me repôs aqui, neste inferno sem fim...
E o pobre continuou, desalentado:
Saí daqui, um dia, a fim de melhorar-me,
Ela me recolheu nos braços com carinho...
Vestiu-me e festejou a júbilos e alarme,
O berço em que eu nascia...
A princípio, embalou-me em canções de alegria,
Entretanto, depois,
Na vida mais profunda entre nós dois,
Segregou-me no mundo, em egoísmo atroz,
Para ela, por fim, na ilusão que levava,
A terra éramos nós, o amor somente nós...

Criou-me escravo dela e fez-me minha escrava,
Afastou-me de tudo quanto fosse inquietação ou prova,
Em que me caberia
Acender, dentro em mim, a luz de vida nova.
Transformou-me a existência em longa fantasia
Para que eu fosse,
Desde o a b c da escola,
Um gênio de artimanhas,
Um moço de aventuras e façanhas,
Mas nunca um aprendiz
Que fosse no futuro um homem reto e feliz.

Quando atingi a plena juventude,
Contratou-me instrutores,
Que me ensinassem força, ação, elegância e beleza,
A fim de que, na forma, eu dominasse
Todos os contendores,
Fortes também por leis da natureza...
Deveria, por fim, ver todos muito abaixo,
A minha pobre mãe exigia e exigia
Que eu demonstrasse, em tudo, a excelência de um macho...
Depois, no entanto, veio a derrocada,
O tóxico apanhou-me a preguiça dourada...

Minha mãe jamais quis ensinar-me a sofrer,
Não quis que eu trabalhasse ou prezasse um dever...
Conheci a maldade e os impulsos medonhos
E a morte prematura, arrasando-me os sonhos...
De útil ou de bom nada tenho e nem fiz,
Sou agora, onde estou, um espírito infeliz!...

Ao escutar-lhe a voz e ao conhecer-lhe o nome,
Cai a pobre mulher na angústia que a consome;
Chama o desventurado e arrasta-se-lhe aos pés,
Avançando de bruços,
Ei-la a falar, desfeita em terríveis soluços:
- Agora compreendo...agora sei quem és...
E, em desespero, a voz grita, ante o céu sem brilho:
- Perdoa-me, meu Deus! ... Ah! meu filho, meu filho! ...

Autora: Maria Dolores
 

segunda-feira, 2 de novembro de 2020

Pai Sempre

Alguém te disse, alma querida e boa,
Que os Espíritos Nobres
Nunca se valem de pessoa
Claramente imperfeita
Em tarefas de amor à Humanidade...

Por isso mesmo o escrúpulo te invade
E, receando a própria imperfeição,
Foges do privilégio de servir
Em que o Senhor te pede trabalhar
A fim de conquistar
O Celeste Porvir...

Reflitamos, no entanto,
Entre simples lições da Natureza:
A semente germina em lauréis de esperança,
Muita vez sob a lama asco rosa e indefesa;
A fonte não seria exemplo de bondade
Em que a vida enxameia,
Se recusasse deslizar
Sobre tratos de terra e lâminas de areia...

Olha as flores do charco
Embalsamando campos e caminhos,
A rosa não desdenha florescer
Entre punhais de espinhos...

Pensa ainda conosco
Nas fraquezas e lágrimas que levas.
O Sol seria o Sol
Se fugisse das trevas?
Esquece pessimismo, acusação, censura,
Nada te desanime, ergue-te e vem...

Conquanto enferma e rude, mesmo assim,
Se te encontras na sombra, avança para a luz,
Sem desertar, porém, de servir com Jesus!
Vem cooperar no amor que devemos ao mundo
E entenderás, por fim,
Que só se vence o mal pelo serviço ao Bem
E que a bênção de Deus jamais nos desampara
Nem despreza a ninguém.

Autora: Maria Dolores

quinta-feira, 15 de outubro de 2020

Ouve Coração

Perguntas, coração,

Como sanar as dores sem medida,

De que modo enxugar a lágrima incontida

Sob nuvens de fel e de pesar!...

Recordemos o chão...

Quando o lodo ameaça uma estrada indefesa,

Em cada canto roga a Natureza:

Trabalhar, trabalhar.

 

Fita o aguaceiro que se fez tormenta.

Ao granizo que estala, o vento insulta;

Seio de mágoas que se desoculta,

A terra, em torno, geme a desvairar...

Mas, finda a longa crise turbulenta,

Sobre teto quebrado, pedra e lama,

Renasce a paz do céu que vibra e chama:

Trabalhar, trabalhar.

 

Ressurge, inalterado, o sol risonho,

Não pergunta se o mal ganhou no mundo

A tudo abraça em seu amor profundo,

A criar e a brilhar!

Recebe cada flor um novo sonho,

Cada tronco uma bênção, cada ninho

Canta para quem passa no caminho:

Trabalhar, trabalhar.

 

Assim também, nas horas de amargura,

Enquanto a sombra ruge ou desgoverna,

Pensa na glória da Bondade Eterna,

Acende a luz da prece tutelar!

E vencerás tristeza e desventura,

Obedecendo à voz de Deus na vida

Que te pede em silêncio, à alma ferida:

Trabalhar, trabalhar.

 

Autora: Maria Dolores

 

quinta-feira, 1 de outubro de 2020

Rendição

Perdoa-me, Senhor, se estou cansada

De meus sonhos falidos,

Longe de ti, vagando, estrada a estrada,

Nas muitas quedas de meus tempos idos.

 

Jesus, se posso ainda despenhar-me

Na treva em que o passado me envolvia,

Que a tua previdência me desarme

Qualquer inclinação à rebeldia.

 

Se ainda posso afundar-me em desalinho,

Replantando ilusões pra frutos amargos,

Não me deixes a sós, nos passos do caminho,

Conserva-me no chão de meus próprios encargos.

 

Se agindo ou imaginando, estiver a ferir

Nos gestos sem razão de que ainda me valho,

Guarda-me no dever sem meios de fugir

À escravidão bendita do trabalho

 

Nas construções verbais a que me entrego

No anseio de encontrar tarefas benfazejas,

Não consintas que eu diga as sombras que carrego,

Induze-me a falar, conforme o que desejas.

 

Quando vacile ou tente desertar

Da luz bendita com que me renovas

Não me deixes sair de meu justo lugar,

Mesmo à custa de crises e de provas.

 

Despoja-me, Senhor, da sombra que me enlaça,

A minha teimosia chega ao fim,

Consente-me entender o que queres que eu faça,

Ajuda-me, Senhor, a esquecer-me de mim!...

 

Autora: Maria Dolores

terça-feira, 15 de setembro de 2020

Paz em Caminho


“Tempos difíceis!... Época de lutas!...”
Dizes guardando na alma a luz acesa
Da análise que vem da madureza
Que o tempo te ensinou a registrar!...
Nesses amplos conflitos da existência,
Embora os desencantos do caminho,
Eis que o Céu te aconselha ao peito em desalinho:
- Perdoar, perdoar...

Companheiros terão mudado a senda,
Olvidando-te a fome de ternura,
Sem notar a dor que te tortura,
Ao senti-los descendo de lugar;
Choras almas queridas que te esquecem,
Perseguindo o prazer ruidoso e vão,
Mas a vida te pede ao coração:
-Perdoar, perdoar...

Quantos amigos vês, trocando de fé,
Por negação que as faltas lhes encobre,
Quantas almas geniais de sentimento pobre
Que te procuram desencorajar!...
As horas, entretanto, vão passando
E o tempo resguardando a antevisão de tudo,
Roga-te na função de mestre mudo:
- Perdoar! Perdoar!...

Não te isoles. Prossegue trabalhando
Na tarefa de amor que te eleva e te apura,
Quantos se dão à sombra da ventura,
Não encontram senão ânsia e pesar!...
Age, fazendo o bem... Caminha e continua...
Para seguir Jesus, estrada adiante,
A própria Lei de Deus nos lembra a cada instante:
- Perdoar! perdoar.

Autora: Maria Dolores

terça-feira, 1 de setembro de 2020

Peregrinação


Sofres, alma querida, os contratempos
Do dever a cumprir... O anseio, a prova,
O medo, a incompreensão, a insegurança...
E solas-te no lar, cuja paz te renova.

Quando a tristeza te procure a vida,
Não te acomodes sob o desalento...
Ouve os irmãos do mundo que te buscam,
Marcados de fadiga e sofrimento.

Venho de minha ronda costumeira...
Numa choça de latas e bagaços,
Vi pobre mãe, a sós, ninando em pranto
Um filho morto nos seus próprios braços.

Num telheiro a cair, encontrei um velhinho...
Ele viu-me e falou em voz sumida e mansa:
- “Moça, eu estou morrendo a pedir quem me faça
Uma prece de paz e de esperança...”.

Mais adiante, achei um hanseniano amigo
Que, em me vendo, clamou: “Minha irmã, por quem és,
Dá-me água, por Deus! Já não mais me equilibro!...
Quero buscar o poço e caíram-me os pés...”“.

Logo após, descobri triste mulher enferma,
Erguendo, quase morta, a seguinte oração:
- “Meu Deus, além do amparo que me enviar,
se possível, Senhor, dá-me a bênção de um pão...”“.

Por isso, coração, não te dês à amargura,
Esquece-te a servir, sem perguntar a quem...
O Cristo que buscamos nos espera,
Entre leiras de amor, na plantação do bem.

Autora: Maria Dolores

sábado, 15 de agosto de 2020

Paterno Amor


Na entrada do asilo,
Um homem robusto, jovem e tranquilo,
Apresentava o pai, um velho que contava
Oitenta e dois janeiros de existência,
À funcionária atenta que o ouvia...

Após sentá-lo num pequeno banco,
Falou à moça em tom seguro e franco:
- “O velho já não sabe o que pensa ou o que diz,
A gritar e a gemer de exigência à exigência,
Formou de minha casa
Um recanto infeliz,
Cujo clima de luta é fogo que me arrasa.

Não quero ver meu filho
Crescendo com o avô inconveniente,
Quero-lhe a internação
De modo permanente.

Quanto custa a pensão?”
A moça respondeu indiferente:
- “A pensão é de quatro mil cruzeiros
A serem pagos mensalmente”.

O senhor fez o cheque
Fazendo o pagamento da quantia
E depois de informar que voltaria,
Foi-se ao pai fatigado, explicando ao velhinho:
- “Meu pai, aqui é a nossa casa de descanso
Terás aqui mais sossego e carinho,
Ao voltarmos da Europa
Virei buscar-te, imediatamente.”

O pranto deslizou sobre a face enrugada
E o velho respondeu em voz tremente:
- “O que será, meu Deus? Que medonho empecilho!...
Estar aqui a sós, sem te encontrar, meu filho!...
E como aguentarei a falta de meu neto?
Não queria afastar-me de meu teto!...
Peço por Deus!... Não te demores
E vem logo buscar-me...”

O filho replicou, quase asperamente:
- “Sem dúvida, meu pai, que podes esperar-me,
Mas não faças alarme...
Nada fará de mim um filho diferente;
Creio que ao fim do mês que vem,
Regressarei como convêm...”

Mas o moço partiu e nunca mais voltou,
E ante a expressão do velho, triste e amarga,
Notava-se que o filho ali se despedira
Como quem se desliga de uma carga,
Agindo alegremente.

O velhinho viveu por lá, três anos,
De saudade, de dor e desenganos
A esperar pelo filho desertor;
A fadiga alterara-lhe a memória,
Não sabia contar a própria história,
Declarava-se um rico possuidor
De terras e fazendas produtivas,
Mas entregara tudo ao filho sem amor.

Numa procuração,
Sem julga-lo capaz de alguma ingratidão,
E embora o filho lhe pagasse o asilo,
Sem questionar o preço,
Não lhe enviava notas de endereço...

Após trinta e seis meses de clausura,
O velhinho ralado de amargura,
Morreu clamando a falta da família...
O cadáver desceu à vala da indigência,
Por fim se lhe acabara a penosa existência.
Mas o tempo não para em parte alguma...

Quarenta anos passados,
De coração batido e passos retardados,
O homem que internara o esquecido velhinho,
Nota que a morte chega a cercar-lhe o caminho,
Poderoso senhor, não consegue expressar-se.

Sob qualquer disfarce,
Tomba, inerte, no leito,
E ante o infortúnio da separação,
Grita por Deus, quer vida e proteção,
Mas a morte o reclama... o corpo se lhe esfria...

Vê-se desencarnado, em noite atroz,
Terrível e sombria...
Chora quase sem voz,
Quando sente que alguém lhe toma o cérebro cansado,
E lhe diz brandamente:
- “Filho do coração, não te aflijas, nem temas,
Acabaram-se agora os teus problemas;
Confia em Deus, não percas a esperança,
Acalma-te e descansa...”

E beijando-lhe os cabelos,
Dedos mostrando carinhosos zelos,
Exclamou com ternura:
- “Agora, sim, achei minha ventura,
Eu sou teu pai!... Meu filho, estou aqui...
Amo-te agora, mais do que te amava,
E só Deus sabe a dor com que eu chorava
Com saudades de ti!”

Autora: Maria Dolores

sábado, 1 de agosto de 2020

Súplica


Senhor! Enquanto a Terra se transforma,
Lembrando mar revolto ante bênção celeste,
Dá-nos a força de seguir na vida
A luz que nos legaste, o exemplo que nos deste!...

Auxilia-nos, Mestre, a suportar, sem queixa,
Luta, dificuldade, crise, prova...
Que aceitemos contigo a dor por instrumento
Que burila e renova.

Quando a perturbação nos assalte o roteiro,
Não nos deixe ferir ou desprezar alguém
E mostra-nos no mal que nos espanque e humilhe
A visita do bem.

Leva-nos a saber que o mal também trabalha e espera
E induze-nos a ver: em nossos vãos temores,
Que o diamante já foi carvão pobre e esquecido,
Que muito espinheiral é viveiro de flores.

Ante ofensas, pedradas e agressões,
Que, em teu nome, possamos acolhê-las,
Como quem agradece a escuridão da noite
Para guardar em prece a visão das estrelas!

Sobretudo, dirige-nos o passo,
Seja onde for e seja com quem for;
Ao clarão da bondade infatigável,
Para o culto do amor.

Que toda criatura do caminho
Encontre em nosso apoio um braço irmão,
Que vejamos, nos últimos da estrada,
Filhos do coração.

Concede-nos o dom de descobrir
Na imensa multidão atirada ao relento,
Nos irmãos em revolta, agarrados à sombra,
Nossa própria família em sofrimento.

Ensina-nos, Jesus, que os bens de que dispomos
São empréstimos teus
E faze-nos sentir que onde houver caridade,
Aí brilha mais alta a presença de Deus.

Autora: Maria Dolores

quarta-feira, 15 de julho de 2020

Serve e Esquece


Coração, ouve!... Se queres

A bênção da paz constante,
Trabalha e segue adiante,
Cumprindo o próprio dever...
Para vencer no caminho
Tristeza, treva e pesar,
Muito mais do que lembrar
A vida roga esquecer.

Esquece as mágoas sofridas,
As horas de céu cinzento,
O azedume, o desalento
E os tempos de provação;
Renova-te, dia-a-dia,
Não pares, contando lutas,
Progresso é o lema que escutas
No mundo em transformação.

Tudo procura a vanguarda,
A flor converte-se em fruto
Do cascalho rijo e bruto,
Eis o diamante a surgir...
O fio forma o agasalho,
A própria noite se esquece
Na aurora que resplandece
Buscando a luz do porvir.

Da própria queda no erro,
Levanta-te e segue à frente,
Servindo incessantemente,
Tudo podes refazer;
Não te detenhas na angústia,
Ante o mal, prossegue e olvida,
As próprias nódoas da vida
A vida pede esquecer.

Autora: Maria Dolores

quarta-feira, 1 de julho de 2020

Rotina


Alma querida, às vezes, chora
Na rotina que acolhes por dever
Pelo frio das horas
Que o relógio te aponta
No que tens a fazer.

É a profissão que te reclama tempo,
É o lar, pedindo-te atenção,
Através de pequenos compromissos,
E o tempo voa
Qual dádiva do Céu que passa em vão.

Mas a rotina inclui outros problemas:
É o carinho de alguém que chega de improviso,
É o amigo que vem
Recordar quanto é preciso
Trabalhar para o bem.

É o parente que chega para confidências,
Largou-se do trabalho por minutos,
Num estreito intervalo.
Fala das provações que está sofrendo
E faz-se imprescindível conforta-lo.

E o dia passa nas tarefas
E nos encontros com que não contavas...
O Sol se foi e eis que a sombra se inclina
Por toda a casa e ouço-te o lamento:
- “Como é triste a rotina!”

Entretanto, alma irmã, ainda hoje,
Pude cumprimentar pessoas generosas
Aturdidas por amargura imensa...
Desejam trabalhar mas não conseguem,
Algemadas ao peso da doença.

Acompanhei equipes de visita
Aos irmãos que tateiam livros, vasos, flores,
Segregados em rude solidão...
Anseiam abraçar amigos que aparecem
Mas estão cegos de visão.

Diversos companheiros vi de perto,
Mostrando no silêncio
Raciocínios agudos...
Pretendem dialogar, trocando ideias,
Entretanto, estão mudos.

Abeirei-me de muitas criaturas
Em estradas e ermos esquecidos
Aguardando o socorro que não vem...
Recordam com saudade os entes que mais amam
E não surge ninguém!...

Reflete nos irmãos, em grandes provas,
Que vivem sem a mínima esperanças,
Da esperança que adoça os dias teus...
E, louvando a rotina que te guarda,
Rende graças a Deus!...

Autora: Maria Dolores

segunda-feira, 15 de junho de 2020

Mãe


Nunca encontrei alguém que te igualasse
No tesouro de afeto e de carinho.
Ah!  Quanto me atrasei para encontrar-te,
Anjo renovador do meu caminho!

Um dia retirei-me de teus braços,
A ver, lá fora, o que eu não conhecia...
Palmas, salões, tertúlias e troféus,
Destaques e grinaldas de alegria...

Flor de emoção em versos juvenis,
No sonho de atingir a vida, a dois,
Parecia que as festas me adornavam
Para as desilusões que viriam depois.

Mas quando os desenganos me buscaram,
Em forma de amargura, abandono e mudança,
Lembrava-me de ti, a servir a humildade,
E erguia-me, de novo, ao calor da esperança.

Hoje, torno a buscar-te, Mãe Querida,
Na luz de teu amor, alto e profundo...
Dá-me a tua luz... Em ti encontro
O próprio coração de Deus no mundo!

Autora: Maria Dolores