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domingo, 15 de agosto de 2021

Recado de Amor

Chama-se Aurora a nobre companheira,
Uma das que encontrei na hora derradeira
Do corpo cujo laço me prendia;
Mensageira da paz e da alegria,
É um misto de menina, flor e estrela...
Depois de longa convivência,
Em meu novo processo de existência,
Pude efetivamente conhecê-la.

Para logo notei que Aurora onde estivesse,
Ante os amigos de qualquer idade,
Lembrava um coração que, de todo, se desse
A tecer fios de felicidade
Para quem lhe escutasse as palavras de luz;
No entanto, aos poucos, vi que ela trazia
Extenso traço de melancolia,
Obscuro pesar, escondido e profundo.

Sem que eu nada indagasse, certa feita,
Ela me disse: - "Irmã Dolores,
Devo tornar ao mundo
Numa jornada estreita.
Irmã, onde estiveres, onde fores,
Roga ao Céu abençoe a luta que me leva
A socorrer um ente amado,
Para mim, tal qual filho desgarrado,
Nas veredas da treva..."

"Mas não podes, irmã, - perguntei, com cuidado, -
Ampará-lo daqui, sem renascer na Terra?"
- "Não, não posso, - ela disse, é na volta que insisto,
Já que em cinco existências, lado a lado,
Esse filho que eu amo é um homem transtornado
Que fugiu por orgulho à presença do Cristo."

Depois de semelhante entendimento,
Acompanhei-a, certa vez,
A fim de conhecer-lhe o ente amado
A quem se afeiçoara noutras eras...
Nele encontrei um cidadão prendado,
Esbanjando poder, nome e talento.

Conquanto homem de bem, de maneiras sinceras,
Casado, pai de um filho
Que ainda não chegara a contar quatro anos,
Professor e eminente cientista,
Emitia conceitos desumanos,
Se alguém falava em fé, expondo-se-lhe à vista.

Logo após, muitas vezes,
Ateu maior, entre os grandes ateus,
Dele escutei opiniões como estas:
- "Santos e religiões nessa história de Deus
São lendas de pessoas desonestas,
O espírito é ilusão da mente alucinada,
Quando a morte aparece, a vida é cinza e nada."

Mas Aurora voltou, - afeição renascida, -
Tomando dele próprio a sua nova vida.
A mãezinha querida, excelente senhora,
Por sugestão do Plano Superior,
Deu-lhe o nome de Aurora...

Tenra criança ainda, ela exprimia amor,
Impressionando ao pai com o luminoso olhar...
No regaço materno, era uma flor no lar.
Crescendo um tanto mais, era-lhe a companhia,
O pai achara nela a fonte da alegria...
Cinco anos apenas e a criança
Endereçava a ele assuntos tais,
Que o genitor se via em profunda mudança,
Nos seus próprios anelos paternais.

Assim que os dois se punham mais sozinhos,
Fosse em casa, nas praias, nos caminhos,
A pequena fazia indagações:
- "Papai, quem fez o mar assim tão grande?
Quem cultiva estas plantas que nós vemos?
Quem criou nossos pés para que a gente ande?
Quem segura no chão a casa em que vivemos?
Papai, quem dá comida aos pássaros na serra?
Quem fez o Sol? Será que o Sol assim, tão brilhante e tão quente,
É uma vela de Deus, iluminando a Terra?"

O pai ouvia a filha, enternecidamente,
E respondia, admirado:
- "Filhinha, vais crescer ao nosso lado,
Tudo compreenderás no momento preciso..."
E parava a pensar, sob longo sorriso.
Após algum silêncio, a expressar alegria,
Vendo as aves saltando, ramo em ramo,
Sempre agarrada ao pai, a pequena dizia:
- "Papai, de tudo o que já sei,
Sabe o que já falei?
Já falei à Mãezinha que eu te amo...
Mas, um dia surgiu... Há sempre um "mas"
Quando a vida feliz perde o gosto da paz.

A menina adoeceu, inesperadamente
E, após longa pesquisa, o médico anuncia
A presença de estranha leucemia...
Os pais lutaram quais leões, à frente
De um perigo mortal, no entanto, hora por hora,
Notam a pequenina e terna Aurora
A definhar e a definhar...

Até que, em certa noite, unidos a chorar,
Sem qualquer esperança que os conforte,
Viram-na repousar no silêncio da morte.
Lembrando um anjo lindo estruturado em cera,
A filhinha querida adormecera.
Dois meses sobre os traços da ocorrência,
A pedido de Aurora,
Fui visitar-lhe a residência.
Não mais achei ali a beleza de outrora...

Tentei buscar-lhe o pai que soube ausente
E encontrei-o num quadro comovente;
Estava triste e só num campo santo,
Tateando na lousa o nome da filhinha
E, demonstrando a mágoa que o retinha,
Falava em alta voz, encharcada de pranto:

- "Filha do coração, embora eu viva triste,
A verdade me diz que a morte não existe.
Anjo de paz e amor, é impossível morrer,
Vives hoje no Além, tanto quanto em meu ser...
Perder-te a companhia é toda a minha dor,
Não olvides teu pai, cansado e sofredor!...
Nunca te esquecerei, filha dos sonhos meus,
A saudade de ti trouxe-me a luz de Deus..."

Então, pude anotar
Naquela inteligência em supremo pesar,
Mostrando o coração sem disfarce e sem véus,
Que toda vida curta, ao brilhar e morrer,
Para quem ama e fica, ante o mundo a sofrer,
É um recado de amor no correio dos Céus!...

Autora: Maria Dolores
 

domingo, 1 de agosto de 2021

Sinal de Deus

Ouvi dizer que um Sábio
Procurando caminho,
A fim de sobrepor-se aos outros seres,
Após vencer hesitações em bando,
De alma firme e disposta
Para entender a realidade,
Interpelou a vida perguntando
Se o Tempo era o maior de todos os poderes;
Mas foi o próprio Tempo
Quem lhe trouxe a resposta:

- “Ouve, amigo,
Na marcha em que prossigo,
Não marco a senda em vão...
Sou mudança de tudo em derredor,
Firo e restauro, exalto e obscureço,
Para que o mundo pague o preço
Da corrida ao melhor...

Impérios vi nascer nos milênios sem data,
Raças, povos, nações, conquistadores, reis...
Mas a vida exigiu estradas novas,
Novas realizações e novas leis
E tudo transformei com força intimorata.

Vi milhões de pessoas sob algemas,
Vinculadas a lutas de outras eras,
Mas apaguei as aflições extremas,
Que as faziam sofrer
Sob longas esperas...

Ódio, ambição, loucura, em tremendos conflitos,
Sombras assinalando embates infinitos
Em convulsões de guerra
Cederam-me à pressão de gradativo corte,
Porquanto o meu domínio abrange a vida e a morte
Nos caminhos da Terra.

Tudo segue comigo em todos os instantes
Nos meus braços gigantes,
Homens, legislações, conceitos, normas,
Renovo sem cessar no cadinho das formas...

Embora isso, devo confessar-te
Que algo existe mais forte, em toda parte,
Muito mais forte do que os meus impulsos;
Esse algo que fica
E que ninguém relega para trás,
Revelando beleza, luz e paz
É o bem que se pratica.

Tudo o que vês no mundo em ascensão,
É o bem que nasce, cresce e se alteia de nível,
Quase que atravessando as raias do impossível
Para manter a evolução...

Ama, serve e constrói nos encargos que levas
E serás novo sol a dissipar as trevas;
Não te prendas a mim,
De idade para idade,
Vive na caridade...
O bem é o talismã da vitória sem fim.”

Somente aí o Sábio compreendeu
Que o Tempo por mais forte sofre a amarra
Da energia que esbarra
Entre limitações de ciclos e museus,
E que apenas o amor sobrevive no mundo,
Por dom inalterável e profundo,
- Permanente sinal da presença de Deus.

Autora: Maria Dolores