Este é um blog de arquivo

ESTE BLOG É UM ARQUIVO DE POESIAS DO BLOG CARLOS ESPÍRITA - Visite: http://carlosespirita.blogspot.com/ Todo conteúdo deste blog é publico. Copie, imprima ou poste textos e imagens daqui em outros blogs. Vamos divulgar o Espiritismo.



segunda-feira, 15 de agosto de 2022

Súplica de Mulher

E disseste Senhor: “Ide e pregai”.
Aqui estou
Para ouvir-te a palavra e dar-lhe desempenho,
Muito embora os defeitos que ainda tenho,
Para estender às criaturas
As notícias do amor de Nosso Pai...

Que dizer, entretanto,
Ao coração que se encharcou de pranto
Pelo extremo cansaço?
Ao companheiro que se entrega ao crime,
Sem que eu consiga desarmar-lhe o braço?
Ao homem sem apoio a que se arrime,
Vendo um filhinho enfermo,
Entre a penúria e a morte?
E ao outro que se rende a desmando profundo,
Criando chagas vivas para o mundo
Sem mão que as reconforte?

Que falarei, Senhor,
À criança que vaga sem amor,
Ao coração de Mãe com um filho ao colo,
A estirar-se no solo,
Em aflição tremenda,
Com febre e inanição,
Sem qualquer agasalho que as defenda,
Sem qualquer proteção?
Que palavras direi, Senhor Jesus,
Aos que andam sem luz.
E anseiam por fugir, num derradeiro aceno,
Entornando na boca a dose de veneno?

Que frases tecerei, Amado Amigo,
Aos que vão, em saber, entre a sombra e o perigo,
Nas trilhas da descrença
Sobre as quais se conjuga
A droga utilizada para a fuga?
Aos que caem, por fim, no desespero inglório,
Buscando apoio e luz, na paz de um sanatório?

Que falarei, Senhor,
Aos que perderam corações queridos
E esquadrinham na lousa
O conforto que tarda,
Procurando na cinza o que a cinza não guarda?

Que direi aos doentes
Que acordam sobre a mesa
De abençoada cirurgia,
Ao se verem sem mãos
Ou reclamando as pernas amputadas?

Que direi, meu Jesus,
Aos pais que viram mortos
Filhos queridos nas estradas
Ou nas pedras da rua,
Através de terríveis acidentes,
Sem saberem que a vida continua
Em planos diferentes?

Ah! sim, Jesus, já sei o que dizer...
Direi que sempre existes
E que reanimarás todos os tristes,
Que pela fé que nos alcança
Temos contigo a fonte da esperança;
Que a ninguém deixarás, de espírito sozinho,
Que nos socorrerás de caminho em caminho,
Na proteção com que nos agasalhas,
Que embora as nossas falhas,
Nós todos somos teus
Tutelados que levas para Deus!...

E se alguém estranhar
Seja eu a singela mensageira
A proclamar o brilho de teu nome,
Dentro da imperfeição que me consome
E nas fraquezas de que me assinalo,
Direi aos companheiros de quem falo
Dos amados amigos que me deste,
Que te espalham no mundo a Bondade Celeste,
Trabalhando e servindo, em qualquer parte,
Ao seguir-te e ao louvar-te...

E, quanto a mim, Senhor,
Que me entrego, de todo e sem reservas,
Ao teu apostolado redentor,
Explicarei que me conservas,
Em minha ignorância e pequenez,
Tão-só para levar,
Seja onde for,
O meu simples cartaz
Enfeitado de amor,
Entre flores de paz,
Sobre o qual escrevi
Com tua permissão,
Estas sete palavras de oração,
De fé, respeito e luz:
- “Confiamos em Deus na bênção de Jesus”.

Autora: Maria Dolores

Fonte da imagem: Internet Google.
 

segunda-feira, 1 de agosto de 2022

Vila Esperança

Alegas, muita vez, alma querida:
- O tédio me entorpece e me consome a vida!...

Um erro na poltrona te desgosta,
Apaga-te o sorriso e deixa-te indisposta...

O marido, preso, por natureza,
Era um médico amigo da pobreza.

Houvesse algum enfermo em pequena palhoça...
Ei-lo, junto ao doente em plena roça...

Ele sofre e adoece, certo dia,
E roga à esposa, amparo e companhia.

Ela atende ao insólito pedido,
Enquanto ele se mostra surpreendido.

De um carro velho e forte, sem tardança,
Descem os dois ao chão, ante a Vila Esperança.

Ali, toda morada, é formada de zinco,
Alinhando-se em grupo, cinco a cinco.

Disse o esposo a ela:
- “Hoje, o trabalho aqui é teu recado...
os doentes são teus...Ando muito cansado...”.

Do casebre primeiro saem gemidos dos loucos...
Eis que o esposo explica:
- "É a Dona Flora, exaurindo-se aos poucos...
Não mais resiste a pobre ao câncer que a devora
Mas, para aliviar a angústia que a domina,
Temos na pasta que eu trouxe a injeção de morfina".

Aplicada a injeção, ela vê três crianças
Junto à mulher sofrida, em choro continuado...
Ela fala ao marido, acerca de mudanças,
E acaba perguntando ao esposo intrigado:
-“O que comem aqui estas crianças nuas”
O médico responde: “O pão dado nas ruas”.
Ela aciona o carro e adquire cem pães,
Que distribui na praça, entre os filhos e as mães.

-“Moça, grita uma voz
De uma das casinholas escondidas,
Venha nos ver
Somos pobres doentes desvalidas!...”
A dama entra no quarto
E lavam-lhe as manchas e as feridas...
Anda de casa em casa.
Dá remédio às crianças com bronquite
E socorre aos enfermos,
Vítimas de hepatite...
De sentimento preso
Às dores que detinham no lugar,
Oito horas gastou a lavar e a limpar.

De volta, eis que ela sente
O marido mais forte e mais contente...
Notou que o Cristo Amado estaria mais perto
E admitiu que a vida
Nunca mais lhe seria
Desencanto e deserto...
Adentrou-se no lar, recordando a excursão
Que lhe alterara a mente, o caminho e a visão...

Ajoelhou-se em prece,
Pensando na penúria que encontrara.
Contemplou de uma fímbria da janela
A noite linda e clara...
Imaginou Jesus
Caminhando ao encontro da pobreza
E quase sem querer
Exclamou para os Céus:

- “Obrigada, Jesus, pela Vila Esperança
que me falou do amor que não se cansa...
agora, estou na paz que eu sempre quis.
A qualquer hora posso ser feliz!...
Obrigada, Jesus, por me ensinar
Que a Caridade é Luz e a Luz é trabalhar!..”.

Autora: Maria Dolores

Imagem meramente ilustrativa – Fonte: Internet Google.