Disse Jesus
na Terra; "Eu sou o pão da vida".
E ansiando
seguir os passos do Senhor,
Quis ser, de
minha parte, a migalha sem nome
De algo que
alimentasse a estranha fome
Dos que
morrem no mundo à carência de amor.
Indaguei do
mentor que me assistia,
Quanto à
ideia de que me via presa
E ele apenas
me disse: "Se procuras
Nutrir o
coração das criaturas,
Ouve as
informações da Natureza".
Interroguei
a Terra e a Terra falou calma;
"Para a
manutenção dos seres que acalanto
Preciso
tolerar enxadas e tratores
E abrir-me
em golpes dilaceradores
Sem que
ninguém me veja o sofrimento ".
Velho tronco
explicou-me; "Vivo ao tempo,
Trabalhando
sem perda de minutos,
Renovo o ar,
produzo fartamente,
Mas padeço
agressões de muita gente,
Sem que eu
possa contar meus próprios frutos".
Entrevistando
o Trigo, ei-lo a dizer-me:
- "Devo
entregar-me sem explicação
Á mó que me
constringe e me tritura,
Fazendo-me
farinha clara e pura,
Que assegure
na mesa o júbilo do pão".
Em tudo
achei no alento para a vida
O extremo
sacrifício em constante processo,
Plantas
gemendo em todos os instantes
E óleo a
queimar-me em máquinas gigantes,
Sustentando
a energia do progresso.
Reconheci
então ser preciso esquecer-me,
Apagar-me ao
servir, alegrar-me na dor,
Aprender
humildade, aparar sem barulho
E
despojar-me, enfim, de todo o humano orgulho
Para ser luz
e paz, auxílio e amor.
Maria
Dolores
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