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quarta-feira, 15 de junho de 2016

Ausência e Fé

Alma fraterna, um dia meditando
Na imensidão do amor, assim qual é,
Interroguei, no mundo, as vidas simples
De que modo aliar distância e fé.

Por que meios guarda a confiança
Quando o amargo da ausência nos invade?
Quando a falta dos entes mais queridos
É suplício com o nome de saudade?

Ouvi uma andorinha
Que se encontrava anônima e sozinha,
Sob antigo telhado:
"Veja, irmã, o meu ninho desprezado!..."

Disse-me sem revolta e sem tristeza.
“Tive filhos que amei com desvelo e ternura,
Entretanto, segundo a Natureza,
Quando se viram emplumados,

Procuraram altura,
Desenvoltos, felizes, fascinados
Ante o Infinito Azul que os atraía...
A princípio, sofri terrível agonia...

Depois, vim a saber
Que Deus, de quem vieram para mim,
O Pai de Imenso Amor e Compaixão sem fim,
Que pode avaliar a minha longa espera,

É quem me fará vê-los,
Para cercá-los com meus zelos
No brilho de futura primavera!...”

Entrevistei robusta laranjeira;
Ela clamou serena e conformada:
"Irmã, tenho lutado a vida inteira
E estou sempre ferida e despojada...

Sabe o Céu com que amor gero os meus frutos,
No entanto, a todos vejo arrebatados,
Sob torções cruéis e, a gestos brutos,
Para serem vendidos nos mercados.

Mas sei que Deus, nosso Pai, que nos ama e nos fez,
Quem conserva o pomar por troféu da lavoura,
Devolverá meus frutos, outra vez,
Na colheita vindoura..."

Busquei ouvir formoso jasmineiro.
Ele falou-me apenas: "Minhas flores
São taladas sem meu consentimento
Por criaturas de instintos inferiores

Que nada sabem de meu sofrimento...
Uma certeza única, no entanto,
Resguarda as forças de que me levanto:
Deus, o Criador das Matas e Jardins
Dar-me-á novamente jasmins..."

Fui ver um manancial, a fim de ouvi-lo...
Ele aclarou tranquilo:
"As fontes que me trocaram pelo chão
São filhas de meu próprio coração!...

Dói-me notar que correm sobre a lama,
Auxiliando ao solo que as reclama...
A fé, porém, me anima e me acalenta...

Em abordando o Mar,
O belo e imenso Mar que Deus sustenta,
Tornarão a voltar,
Primeiramente em forma de vapor,

Subindo ao firmamento...
No Alto, serão nuvens contemplando
As minhas grandes mágoas
E voltarão a mim, entre chuvas em bando,
De novo enriquecendo as minhas próprias águas.."

Reconheci, então, alma querida,
Que a saudade é esperança em nova vida,
Para o reencontro daqueles que nos são
Tesouros de alegria e de afeição,

A esperarem por nós no Mais Além...
Porque Deus que de amor nos fez o coração
Nunca nos deixa em solidão
Nem separa ninguém.


Autora Maria Dolores

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