Terminara
Jesus a prédica no monte.
Nisso, o
apóstolo Pedro aproxima-se
E diz-lhe:
"Senhor, existe alguma ponte,
Que nos
conduza ao Alto, ao Céu que brilha muito acima?
Conforme
ouvi de tua própria voz,
Sei que o
Reino do Amor está dentro de nós...
Mas deve
haver, no Além, o País da Beleza,
Mais sublime
que o Sol, em fulgor e grandeza...
Onde essa
ligação, Senhor, esse divino acesso?
Jesus
silenciou, como entrando em recesso,
Da palavra
de luz que lhe fluía a jorro...
Circunvagou
o olhar pelas pedras do morro,
E, depois de
comprida reflexão,
Falou ao
companheiro: - "Ouve, Simão,
Em verdade,
essa ponte que imaginas,
Existe para
a Vida Soberana,
Mas temos de
atingi-la por estrada,
Que não é
bem a antiga estrada humana."
- "Como
será, Senhor, esse caminho?"
Tornou Simão
a perguntar.
E Jesus
respondeu sem hesitar:
-
"Coração que a escolha, às vezes, vai sozinho,
E quase que
não tem
Senão
renúncia e dor, solidão e amargura...
E conquanto
pratique e viva a lei do bem,
Sofre o
assédio do mal que o vergasta e procura
Reduzi-lo à
penúria e ao desfalecimento.
Quem busca
nesta vida transitória,
Essa ponte
de luz para a eterna vitória,
Conhecerá,
de perto, o sofrimento,
E há de
saber amar aos próprios inimigos,
Não contará
percalços nem perigos,
Para servir
aos semelhantes,
Viverá para
o bem a todos os instantes,
E mesmo
quando o mal pareça o vencedor,
Confiando-se
a Deus, doará mais amor...
E ainda que
a morte, Pedro, se lhe imponha,
Na injustiça
ferindo-lhe a vergonha,
Aceitará
pedradas sem ferir,
Desculpará
injúria e humilhação,
Se deseja
elevar o coração
À ponte para
o Reino do Porvir..."
Alguns dias
depois, o Cristo flagelado,
Entregue à
própria sorte
Encontrava
na cruz o impacto da morte,
Silencioso,
sozinho, desprezado...
Terminada
que foi a gritaria
Da multidão
feroz naquele dia,
Ante o Céu
anunciando aguaceiro violento,
Pedro foi ao
Calvário, aflito e atento,
Envergando
disfarce...
Queria ver o
Mestre, aproximou-se,
Para
sentir-lhe o extremo desconforto...
Simão chorou
ao ver o Amigo morto.
E ao
fitá-lo, magoado, longamente,
Ele ouviu,
de repente,
Uma voz a
falar-lhe das Alturas:
-
"Pedro, segue, não temas, crê somente!...
Recorda os
pensamentos teus e meus...
Esta cruz
que me arrasa e me flagela
É a ponte
que sonhavas, alta e bela,
Para o Reino
de Deus."
Autora:
Maria Dolores
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